Mês: agosto 2013

Reforma universitária. Chega de Dr CRM ! Saul Leblon, na Carta Maior, vai mais longe: que sociedade gerou esses CRMs ?

Eles desembarcaram há apenas quatro dias.

Ainda nem começaram a trabalhar. Mas alguma coisa de essencial já foi diagnosticada entre nós, apenas com a sua presença.

Uma foto estampada na Folha de S. Paulo desta 3ª feira sintetiza a radiografia que essa visita adicionou ao diagnóstico da doença brasileira.

Um médico negro avança altivo pelo corredor polonês que espreme a sua passagem na chegada a Fortaleza, 2ª feira.

O funil do constrangimento é formado por jovens de jaleco da mesma cor alva da pele.

Uivam, vaiam, ofendem o recém-chegado.

Recitam um texto inoculado diuturnamente em sua mente pelas cantanhêdes, os gasparis e assemelhados.

Centuriões de um conservadorismo rasteiro, mas incessante.

É força de justiça creditar a esse pelotão a paternidade da linhagem, capaz de cometer o que a foto cristalizou para a memória destes tempos.

“Escravo!” “Escravo!” “Escravo!”.

Ecoa a falange cevada no pastejo da semi-informação, do preconceito e das tardes em shopping center.

Foi programada para cumprir esse papel, entre outros, de consequências até mais letais para a democracia e a civilização entre nós.

Um desembarque que em outros países seria motivo de festas, homenagens e bandas de música.

Aqui é emoldurado pelo espetáculo deprimente de uma classe média desprovida de discernimento sobre o país em que vive, o mundo que a cerca e as urgências da sociedade que lhe custeou o estudo.

Para que agora sabotasse a assistência cubana aos seus segmentos mais vulneráveis, aos quais ela se recusa a atender.

Os alvos da fúria deixaram família, rotinas e camaradagem para morar e socorrer habitantes de localidades das quais nunca ouviram falar.

Mas que a maioria dos brasileiros também sequer desconfia que existam.

Com o agravante de que ali talvez jamais pousem seus pés. Coisa que os cubanos farão. Por três anos.

E que graças a eles, agora saberemos que existem.

Se o governo for safo – espera-se que seja – fará do Mais Médico uma ponte de conexão de nós com nós mesmos.

O futuro da democracia agradecerá.

Os pilares dessa ponte, de qualquer forma, são os que transitam agora altivos diante da recepção que indigna o Brasil aos olhos do mundo.

Perfis médicos ainda improváveis entre nós, apesar do Prouni e das cotas satanizadas pela mesma cepa mental adestrada em compor corredores e funis.

Nem sempre físicos, como agora.

Mas permanentemente intolerantes, na defesa da exclusão e do privilégio.

Formados em uma ilha do Caribe desguarnecida de recursos, por uma escola de medicina que contorna a tecnologia cara, apurando a excelência do exame clínico – aquele em que o médico demora uma hora ou mais com o paciente, rastreando o seu metabolismo – eles passarão a cuidar da gente brasileira pobre e anônima. (Leia a excelente entrevista de Najla Passos com a doutora Ceramides Carbonell sobre a formação de um médico em Cuba).

Campos Alegres de Lourdes, Mansidão, Carinhanha, beira do São Francisco, Cocos, Sítio do Quinto, Souto Soares… Quem conhece esse Brasil?

É para lá que eles vão. E para mais 3.500 outras localidades.

Um Brasil esquecido, em muitos casos, mantido na soleira da porta, do lado de fora do mercado e da cidadania.

Que sempre esteve aí. Mas que agora, pasmem, terá um sujeito interessado em ouvir o que sua agente tem a dizer, esforçando-se por entender pronúncias que até nós, os locais, teríamos dificuldade de discernir.

O ‘doutor de Cuba’ de fala estrangeira e jeito parecido com a gente estará ali.

A examinar, apalpar dores, curar vermes, prescrever cuidados, encaminhar cirurgias, ouvir e confortar.

Com remédios, atenção e esperança.

Houve um tempo em que essas expedições a um Brasil distante do mar eram feitas por brasileiros, e de classe média.

Protagonistas de um relato épico, de nacionalismo não raro ingênuo. Mas que aproximava e treinava o olhar do país sobre ele mesmo.

Coisa que a hiper-conexão disponível agora poderia fazer até melhor.

Não fosse a determinação superior de afastar e dissimular, o que muitas vezes se alcança destacando o pitoresco.

Em detrimento do principal: as questões do nosso tempo, do nosso desenvolvimento, as escolhas que elas nos cobram. E os interesses que as bloqueiam.

Tivemos a Coluna Prestes, nos anos 20.

Os irmãos Vilas Boas, apoiados por malucos como Darcy Ribeiro e entusiastas como Antonio Calado, fizeram isso nos anos 40/50 e início dos 60, quando foi criado o Parque Nacional do Xingu.

Trouxeram a boca do sertão para mais perto do olhar litorâneo e urbano.

Desbastavam distancias a facão.

Na raça, traziam horizontes, aproximavam rios, tribos, desafios e, de alguma forma, semeavam um espírito de pertencimento a algo maior que a linha do mar e a calçada de Copacabana.

A utopia geográfica, se por um lado borrava os conflitos de classe, ao mesmo tempo colidia com o país real que os esperava em cada socavão, de trincas sociais, fundiárias, étnicas e econômicas avessas à neblina da glamorização.

Paschoal Carlos Magno, a UNE e o CPC, o Centro Popular de Cultura, fariam o mesmo nos anos 60, antes do golpe militar.

As famosas ‘Caravanas do CPC’ rasgaram o mapa do sertão.

Desceriam o São Francisco nas gaiolas lendárias para garimpar e irradiar a cultura popular em lugares onde agora, possivelmente, um doutor cubano irá se instalar.

Caso de Carinhanha, por exemplo, um dos mais belos entardeceres do São Francisco.

Onde foi que a seta do tempo se quebrou?

Por que já não seduz a grande aventura de nossa própria construção?

Uma leitora de Carta Maior, Odette Carvalho de Lima Seabra, resume em comentário enviado ao site o núcleo duro do problema.

“ A geração dos nossos jovens doutores”, escreve, “ jamais compreenderá de que se trata. Foram criados nos shopping centers. A escola secundária limitadíssima no seu alcance humanístico os fez também vítimas sem que o saibam que são. Uma revolução que durou vinte anos e cujo sentido era o de esvaziar de sentido a vida de todos nós deixou no seu rescaldo, esse bando de jovens, como são os nossos doutores, muito alienados. É tempo de aprender com os cubanos”, conclui Odette.

Colocado nos seus devidos termos, o impasse readquire a clareza histórica de que se ressente a busca de soluções.

Entre indignado e estupefato, o conservadorismo nega aos visitantes cubanos outra referência de exercício da medicina que não a dos valores argentários.

Ética médica, solidariedade, internacionalismo e humanismo formam uma constelação incompreensível a quem divide o mundo entre consumidores e escravos.

À esquerda, no entanto, cabe também evitar simplificações.

Se quiser enxergar a real abrangência das tarefas em curso, é preciso admitir que não estamos diante de uma batalha entre anjos e demônios.

Os médicos do Caribe não nascem bonzinhos. Tampouco endemoninhados, os dos trópicos.

Eles são formados assim. Por instituições.

A escola, por certo, mas a mídia, sem dúvida, que a completa pelo resto da vida.

É vital que o governo, lideranças sociais e os intelectuais compreendam o fundamental em jogo.

Se quisermos colher frutos duradouros com o ‘Mais Médicos’, o passo seguinte do programa terá que ser a reforma universitária brasileira.

Que reaproxime universidade e a juventude das grandes tarefas coletivas do nosso tempo.

As diferenças entre a formação do cubano hostilizado na chegada a Fortaleza, e aqueles que o ofendiam não são apenas de ordem técnica.

Mas, sobretudo, de discernimento diante do mundo.

A ponto de um não achar estranho sair de seu país para ajudar um outro.

Nem considerar despropositado que parte de seu ganho se transforme em fundo público de reinvestimento.

O oposto das convicções dos que o agraciavam com o corolário de sua própria servidão.

Esse talvez seja o aspecto mais chocante da visita que acaba de chegar.

E, sobretudo, o mais instrutivo.

Ela escancara a doença social que corrói o nosso metabolismo. E adverte para as limitações que irradia.

Na sociedade que estamos construindo.

Na mentalidade que vai se sedimentando. No risco que ela incide sobre o todo.

Para que o ‘Mais Médicos’ um dia possa ser dispensável, o Brasil precisa se tornar ele próprio um grande ‘Mais Solidariedade’.

Como faz Cuba desde 1959, com todos os seus erros, acertos e percalços.

Fonte:conversaafiada.com.br

LDB ATUALIZADA 2011 MEC: LDB ATUALIZADA E COMENTADA EM PDF ( LEI 9394/96 )

A nova Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LEI 9.394/96):
DESTAQUES, AVANÇOS E PROBLEMAS
A nova LDB: destaques, avanços e problemas. Salvador: Revista de
Educação CEAP, ano 5, no. 17, junho de 1997, p. 05
21.
Andrea Cecilia Ramal
“Esta lei procura libertar os educadores brasileiros
para ousarem experimentar e inovar.”
(Darcy Ribeiro)
A Lei 9.394/96 contém as Diretrizes e Bases que vão orientar a
educação nacional nos próximos
anos. Seus 92 artigos representam um novo momento do ens
ino
brasileiro; neles vemos refletidos
muitos dos desafios e esperanças que movem o trabalho de tantos
educadores numa nação de
realidades tão diversas.
Este artigo se propõe destacar alguns dos aspectos mais
significativos envolvidos nas mudanças
que a Le
i apresenta. Em seguida, analisamos os elementos que nos
parecem constituir avanços
com relação ao contexto educacional do momento, aos quais
contrapomos também algumas
questões que são ou que podem vir a se tornar problemáticas, em
função do modo como o t
exto
for interpretado ou da maneira como for conduzida a implementação
de certas mudanças.
Breve histórico da Lei 9.394/96
Em 1988 já corria no Congresso Nacional o processo de tramitação
da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB). Tratav
a
se então do projeto
apresentado pelo Deputado
Federal Otávio Elízio (PSDB/MG); o relator era Jorge Hage
(PDT/BA).
O texto seria aprovado na Câmara dos Deputados em 13 de
setembro de 1993, depois de receber
1.263 emendas. O projeto original, modificado em
longas
negociações na correlação das forças
políticas e populares, ia para a avaliação do Senado reduzido,
contendo 298 artigos.
O relator no Senado Federal, Cid Sabóia (PMDB/CE), dá seu
parecer e a Comissão de Educação

do Senado aprova o então Projeto de
Lei 101/93 no dia 20 de
novembro de 1994.
Um dado novo atropela o processo: o senador Darcy Ribeiro
apresenta um substitutivo do projeto,
alegando inconstitucionalidade de vários artigos[1]. Por
requerimento do senador Beni Veras
(
PSDB/CE), o PL 101/93
que já estava no Plenário do Senado
é
retirado. O Presidente do
Senado, José Sarney, decide retomar a tramitação dos três
projetos: o antigo PL 101/93 da
Câmara, o parecer de Cid Sabóia aprovado pela Comissão de
Educação e o subst
itutivo Darcy
Ribeiro. Este último é designado para atuar como relator. Ao
apreciar as emendas do PL 101/93,
Ribeiro notoriamente toma como referência seu próprio projeto e as
suas concepções de
Educação.
Contando com uma espécie de consenso entre os senad
ores, o
substitutivo Darcy Ribeiro, que
contém apenas 91 artigos, é colocado em evidência, considerado
mais enxuto e não detalhista.
No dia 14 de fevereiro de 1996 é aprovado no plenário do Senado o
Parecer nº 30/96, de Darcy
Ribeiro. Esta decisão não só t
ira o projeto inicial da LDB de cena,
como também, de certo modo,
nega o processo democrático estabelecido anteriormente na
Câmara e em diversos setores da
população ligados à Educação[2].
A Lei 9.394/96 é promulgada pelo Congresso Nacional e
sancionada pe
lo Presidente da República
com data de 20 de dezembro de 1996, e publicada no Diário Oficial
em 23 de dezembro de 1996.
1a. parte:
Diretrizes e Bases para a Educação Nacional
alguns destaques
1. O currículo
Os currículos do ensino fundamental e médio pas
sam a
compreender uma base nacional comum
que deve ser complementada por uma parte diversificada, de
acordo com as características
regionais (art. 26).
Fica sugerida uma flexibilização dos currículos, na medida em que
se admite a incorporação de

disciplina
s que podem ser escolhidas levando em conta o contexto
e a clientela. No ensino nas
zonas rurais, é admitida inclusive a possibilidade de um currículo
apropriado às reais necessidades
e interesses [desses] alunos (art. 28, inciso I).
A LDB determina que a
Educação Artística seja componente
curricular obrigatório no Ensino
Básico (pré
escolar, 1º e 2º graus; art. 26, § 2º). O objetivo é
promover o desenvolvimento cultural
dos alunos.
Continua a exigência de uma língua estrangeira moderna a partir da
5ª série
, e pedem
se duas
línguas (uma opcional, de acordo com as possibilidades da
Instituição) no ensino médio.
Entre os saberes que o educando deverá dominar após o ensino
médio estão os conhecimentos
de filosofia e de sociologia necessários ao exercício da cidadania
(art.36, § 1º); contudo, a Lei não
exige que tais disciplinas sejam incorporadas ao currículo.
O Ensino Religioso passa a ser disciplina de oferta obrigatória nas
escolas públicas, com matr
ícula
facultativa e sem ônus para os cofres públicos (Art. 33).
2. A avaliação
Termina a exclusividade do exame vestibular para ingresso no
Ensino Superior (art. 44, inciso II). A
LDB fala de uma classificação mediante processo seletivo, sem
especificar. P
odemos entender,
por exemplo, as notas do 2º grau, ou uma prova aplicada pelo
MEC[3].
A LDB cria o processo de avaliação das instituições de educação
superior, assim como do
rendimento escolar dos alunos do ensino básico e superior.
No ensino superior, o M
EC pode, mediante análise dos resultados
da avaliação, descredenciar
cursos, intervir na instituição, suspender temporariamente a
autonomia, rebaixá
la a Centro
Universitário (centros sem a exigência de trabalho de pesquisa), ou
mesmo descredenciá
la. Pass
a
a ser solicitado, além disso, o recredenciamento das universidades
a cada cinco anos.
Quanto à avaliação dos alunos do ensino básico por parte do
governo, não há maiores
especificações.

A classificação dos alunos nas séries iniciais passa a poder ocorrer
por promoção. Este termo
(diferente de aprovação) é identificado também no texto com a
“progressão continuada” ou a
“progressão parcial” e com a “progressão regular por série”.
Consiste na aprovação automática de
alunos da 1ª até a 5ª série, pressupondo u
m acompanhamento
personalizado, com o fim de evitar
a evasão escolar e a repetência nos primeiros anos de estudo. Esse
sistema não é uma inovação
da LDB, mas fica por ela legitimado (art.24; art.32, inciso 2º).
Isso abre a possibilidade de uma nova concepç
ão de série. O artigo
23 rege que a educação
básica poderá ser organizada tanto em séries anuais como em
períodos semestrais, ciclos,
alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados,
com base na idade, na
competência e em outros critérios,
sempre que o interesse do
processo de aprendizagem assim o
recomendar.
Nos termos da lei, a verificação do rendimento escolar deve ser
contínua e cumulativa, e a
recuperação deve dar
se, de preferência, paralelamente ao período
letivo (art. 24). Continua a
exigência do mínimo de 75% de freqüência, exceto para os
sistemas de ensino não presenciais
(educação à distância).
3. Papel e formação dos professores
A nova LDB dá atenção específica à questão dos professores e
procura valorizar o magistério,
estabelece
ndo critérios de ingresso e falando da necessidade do
plano de carreira nas instituições
(art. 67). Na descrição das funções dos docentes, afirma que eles:
“participam da elaboração da
proposta pedagógica das escolas”; “elaboram e cumprem planos de
trabalh
o”; “zelam pela
aprendizagem dos alunos”; estabelecem estratégias de
recuperação”; “ministram os dias letivos
estabelecidos e participam integralmente do planejamento/
avaliação”; “articulam
escola/família/comunidade” (art.13).
O texto explicita que seja a
ssegurado ao profissional da educação:
“o aperfeiçoamento continuado,

inclusive com licenciamento periódico remunerado”; um “piso
salarial profissional”; a “progressão
funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do
desempenho”; um “períod
o
reservado a estudos, planejamento e avaliação incluído na carga
[horária]”; e “condições
adequadas de trabalho” (art. 67).
São criados os Institutos Superiores de Educação, para preparação
de docentes em nível superior
(curso de licenciatura, graduação p
lena) como formação mínima
para o exercício do magistério na
educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino
fundamental (art. 62).
No artigo 63 lemos que tais Institutos Superiores manterão:
a) cursos formadores de profissionais para a educação
básica,
inclusive para o curso normal
superior;
b) programas de formação pedagógica para portadores de diploma
de educação superior que
queiram se dedicar à educação básica[4];
c) programas de educação continuada para os profissionais da
educação.
A LDB re
ge ainda que a formação docente, exceto para a educação
superior, inclua prática de
ensino de, no mínimo, 300 horas (art. 65).
4. Ensino à Distância
Os programas de educação à distância são incentivados pela nova
LDB (art. 80, § 4o.) em todos
os níveis e modalidades do ensino, desde que as Instituições a
oferecê
los estejam devidamente
credenciadas. Nesse tipo de ensino estão compreendidos desde os
cursos como o que certas
universidades oferecem em convênio com Centros Pedagógicos ou
escolas, p
or exemplo, tendo
como instrumentos de trabalho materiais escritos e livros, até as
transmissões de informações por
canais especiais de televisão e a conexão à Internet.
5. Outros destaques
· A denominação dada aos níveis escolares é: Educação Básica
(comp
reende a educação infantil,
o ensino fundamental (anteriormente 1o. grau) e o ensino médio,
anterior 2o. grau); e Educação
Superior.

· O Ensino Fundamental (8 anos) aparece sempre como prioridade.
Sendo dever do Estado,
qualquer cidadão ou entidade de clas
se pode acionar o Poder
Público para exigi
lo (art. 4º/5º).
· A carga horária mínima anual da educação básica é de 800 horas
em 200 dias letivos, sem contar
os exames finais. A jornada escolar no ensino fundamental inclui
pelo menos quatro horas de
trabalh
o efetivo em sala de aula, mas o artigo 34 prevê que o
período de permanência na escola
seja progressivamente ampliado.
· A educação profissionalizante passa a constituir um curso
independente do Ensino Médio.
· A LDB chama a atenção para a necessidade de
se alcançar
relação adequada entre o número de
alunos e o professor, acenando para uma redução do número de
alunos em cada sala de aula,
porém sem especificar (art. 25).
· A rede pública de ensino deverá ampliar seu atendimento aos
alunos com necessidades
especiais de aprendizagem (art. 60
parágrafo único).
· A LDB rege que os recursos financeiros destinados à Educação
sejam, do orçamento da União,
nunca menos de 18%; dos Estados e Municípios, nunca menos de
25%. Abre
se a possibilidade,
sem muita clareza
de critérios, de que tais recursos possam ser
dirigidos também a escolas
comunitárias, confessionais ou filantrópicas (art. 69 e art.77),
inclusive para bolsas de estudo para
a educação básica se não houver vagas na rede pública de
domicílio do educando, comprovandose
a insuficiência de recursos.
· As universidades públicas são obrigadas a oferecer ensino
noturno com a mesma qualidade e
estrutura material disponível dos cursos
diurnos; o poder público
(União, Estados e Municípios)
deve oferecer ensino supletivo gratuito.
· A LDB exige o mínimo de um terço de professores com titulação
de Mestrado ou Doutorado para
que as instituições sejam reconhecidas como Universidades. Estas
t
erão oito anos a partir da data
em que a Lei entrou em vigor para se adequarem.

· Classificação das instituições de ensino (art.20): poderão ser
enquadradas nas categorias
privada, comunitária, confessional e filantrópica. A escola
confessional deve poder
continuar
acumulando, em casos específicos e na forma da lei, as funções e
atribuições da filantrópica.
· As atribuições dos diferentes sistemas ficam assim determinadas:
Sistema Federal de Ensino
Sistema Estadual de Ensino
Sistema Municipal de Ensino
· Es
colas mantidas pela União
· Ensino Superior privado
· Órgãos federais de Educação
· Escolas mantidas pelo Estado
· Ensino superior mantido pelo Município
· Ensino fundamental e médio privado
· Órgãos de educação estaduais
· Escolas municipais
· Educação in
fantil privada
· Órgãos municipais de Educação
· Fica instituída a Década da Educação, a iniciar
se um ano depois
da data de publicação da LDB.
A União tem um ano para encaminhar ao Congresso Nacional o
Plano Nacional de Educação. O
ano de 1997 é o período
para adaptação das legislações
educacionais e de ensino da União, dos
Estados e dos Municípios às disposições da 9.394/96. As
instituições escolares devem ainda
receber destas instâncias os seus prazos de adaptação.
· Institui
se o Conselho Nacional de Educação (art. 9º, § 1º),
herdeiro do antigo Conselho Federal
de Educação (1962
1994). Terá funções de normatização e
assessoramento, com uma inovação:
seus membros podem ser indicados pela sociedade (Lei 9.131/95),
o
que pretende evitar a
interferência da política partidária neste processo.
2a. parte
Avanços e Problemas
AVANÇOS
A Lei 9.394/96 representa um passo à frente no âmbito da
descentralização do processo
educativo, dando certa autonomia às escolas e flexibiliz
ando
também a gestão dos centros de

ensino superior. Embora sujeitas a avaliação e até passíveis de
descredenciamento pela União, as
universidades podem: deliberar sobre critérios e normas de seleção
e admissão de estudantes a
seus cursos (art. 51); criar,
organizar e extinguir cursos e programas
de educação superior; fixar os
currículos de seus programas, dentro das diretrizes gerais; elaborar
e reformar seus próprios
estatutos e regimentos; administrar os rendimentos (art. 53); decidir
sobre ampliação e d
iminuição
de vagas (art. 53, § único); propor o seu quadro de pessoal docente
e seu plano de cargos e
salários (art. 54, § 1º), entre outras atribuições que lhes são
conferidas. Nesses termos, a
tendência para o MEC deve ser de não atuar mais como um
regul
ador, mas sim como coordenador
ou articulador do grande projeto nacional, concedendo a autonomia
imprescindível a um espaço
que se propõe desenvolver trabalhos de pesquisa e investigação
científica. Ao mesmo tempo, o
crescimento da autonomia se transforma
em exigência de inovação
para as universidades: não há
sentido na repetição de velhas práticas se, a partir de agora, é
possível começar a empreender
mudanças.
A LDB demonstra preocupação clara com as principais questões da
educação brasileira, tais como:
è Funcionamento e duração da educação básica, determinando
claramente períodos a serem
cumpridos e estabelecendo diretrizes básicas de organização do
ensino (a Lei abre ainda a
possibilidade de que cada escola elabore seus calendários
escolares, o que pode
representar um
melhor atendimento às especificidades de cada clientela);
è A necessidade de o aluno permanecer mais tempo de seu dia no
espaço escolar, e menos tempo
de sua vida na escola (principalmente pelo término da repetência
nas primeiras séries). A previsão
de ampliação do número de horas do aluno na escola prevista no
artigo 34 não tem prazo definido,
mas é uma proposta que está em sintonia com as tendências do
s
mais modernos métodos
pedagógicos.

É possível que Darcy Ribeiro estivesse propondo, com este projeto,
um modelo de escola
semelhante ao dos CIEPs, centros integrados que criou no Rio de
Janeiro, com provável
inspiração nas teorias do ensino compensatório
, já muito criticadas
e inclusive descartadas
enquanto possibilidade de superação das desigualdades
educacionais. Mesmo assim, esta idéia
tem pontos positivos, na medida em que estimula a presença e a
participação na vida da
comunidade escolar, além de pro
piciar aos alunos de classes de
baixa renda a possibilidade de
trabalhar no próprio estudo num ambiente muitas vezes mais
adequado do que o de suas casas.
Tal prática deve implicar uma reestruturação paulatina dos centros
de ensino, no sentido de se
adapta
rem às necessidades que o regime de semi
internato envolve
(maior número de docentes
na escola ou aumento do período de permanência dos professores
no espaço escolar, destinação
ou construção de locais apropriados para o estudo do aluno,
ampliação das prop
ostas da escola a
outros setores da formação humana, como práticas esportivas,
cursos de música e outras artes,
etc.)
è A inserção da transdisciplinaridade nos novos currículos, sugerida
no momento em que se
admite uma parte diversificada para completar a
base nacional
curricular comum. A educação da
era da informação não pode mais se fechar num único parâmetro
curricular. Novas propostas de
ensino, baseadas na busca coletiva do saber e na possibilidade do
aluno fazer a própria
construção do conhecimento, d
evem aliar o saber local e o global,
voltando
se para a abrangência
e a flexibilidade de conteúdos. Isso não significa necessariamente
entrar nos moldes da
globalização, e sim buscar o universalismo.
Além disso, muitos educadores vêem a nova lei com bastan
te
esperança na possibilidade de ir
transformando o currículo em função de enfoques educativos mais
voltados para a formação.

Bibliografia PEB II – COMPREENDER E TRANSFORMAR O ENSINO – Sacristan

Sem compreender o que se faz, a prática pedagógica é uma reprodução de hábitos e pressupostos dados, ou respostas que os professores dão a demandas ou ordens externas. Conhecer a realidade herdada, discutir os pressupostos de qualquer proposta e suas possíveis conseqüências é uma condição da prática docente ética e profissionalmente responsável.

As teorias e o pensamento educativo se apresentam, em muitos casos, como legitimadores de realidades e projetos com uma autoridade técnica que oculta as dimensões éticas, sociais, pedagógicas e profissionais dos fatos e usos no sistema educativo. Em Compreender e Transformar o Ensino, os autores analisam os problemas e as práticas que foram e são essenciais para dar conteúdo e sentido à realidade do ensino.

 

Os professores como planejadores

 

Embora o professor não seja o único agente que elabora o currículo escolar, possui um papel importante ao traduzir para a prática qualquer diretriz ou seleção prévia dos conteúdos.

 

Desta forma, além do professor auxiliar na elaboração dos currículos escolares, sua participação vai além, desempenhando atividades práticas como a elaboração de roteiros de conteúdos, preparo de atividades ou tarefas, previsão de materiais que serão utilizados, confecção ou seleção dos mesmos, acomodação do mobiliário em sala de aula, etc.

 

A prática de planejamento de professores pode ser vista sob uma perspectiva gerencial, isto é, como um passo que faz parte do processo de desenvolvimento do currículo. Também pode ser encarada sob uma ótica fenomenológica, onde a programação dos professores são as operações que estes realizam quando planejam. Já sob uma perspectiva técnico-cientificista, os professores, ao programar ou planejar, desejam alcançar racionalidade em suas decisões.

 

A perspectiva psicológica, por sua vez, entende que os processos de planejamento incluem as atividades mentais que os professores desenvolvem ao realizar seus projetos, assim como quando aplicam os planos à realidade, visto que planejar implica tomar decisões, considerar alternativas e resolver problemas. E um enfoque coerente com a tradição acadêmica determina que o professor, como planejador, deve seguir a estrutura interna do conhecimento que leciona em diferentes áreas ou disciplinas.

 

Finalmente, a perspectiva prática entende o plano curricular como função básica dos professores, que reflete em seu trabalho a sua profissionalização.

 

O enfoque prático concede valor à habilidade dos professores em buscar a forma de aprendizagem mais adequada aos interesses dos alunos, partindo da premissa de que aprender é conseqüência de um envolvimento pessoal e de um processo de reflexão que não pode ser previsto desde o começo. Porém, ao lado dos pontos positivos há também fatores negativos, e a maior dificuldade desse enfoque reside no fato de se apoiar demasiadamente nas possibilidades do professor, mas não propor soluções, deixando o educador totalmente à mercê dos acontecimentos externos.

 

 

Configuração de um modelo prático para os professores

 

Num enfoque prático o professor não atua seguindo modelos formais ou científicos, nem segue à risca modelos de ensino ou de aprendizagem. Isso não impede, porém, que o professor possa aproveitar idéias e teorias científicas, mas quando fizer isso deverá sempre dar seu toque pessoal às situações que surgirem.

 

Em seu trabalho em sala de aula, o primeiro desafio do professor consiste em manter a cooperação dos estudantes nas atividades propostas. Conseguindo que seu trabalho flua e que dê bons resultados. Sendo assim, o professor deve-se levar em conta os desafios mais elementares que o ensino apresenta, e não subestimá-los. Conclui-se que o sucesso dos planos curriculares devem muito à habilidade prática do professor em controlar e sanar situações deficitárias em seu ambiente de trabalho.

 

Também para um bom sucesso na implantação dos planos curriculares e um melhor esclarecimento daquilo que se pretende, é importantíssimo que os professores os elaborem com base em esquemas mentais, geralmente não explicitados, e que por sua vez baseiam-se em esboços escritos. E o mais importante de qualquer programação escrita é que ela seja um reflexo real dos esquemas mentais, não seguindo pura e simplesmente exigências burocráticas da escola.

 

O plano curricular significa para os professores a oportunidade de repensar a prática, representando-a antes de concretizá-la. O desenvolvimento dessas atividades deve seguir um processo cíclico: pensar antes de decidir, observar ou registrar o que acontece enquanto se realiza o processo e aproveitar os resultados e anotações tomadas em relação ao processo seguido para se ter em mente como melhor proceder em uma nova oportunidade.

 

Quando um professor planeja encontra-se perante o fato de que é preciso ensinar os seus alunos, isto é, desenvolver um currículo. Para tanto pode-se partir de três considerações:

 

a) Condições da situação na qual se realiza: A prática institucionalizada é uma realidade, podem até ser propostas algumas reformas, mas nunca será algo totalmente novo. Porém, pelo menos em parte, o caráter de determinada situação poderá ser moldado pelo professor. Não ocorrem situações totalmente abertas, mas tampouco de todo fechadas;

 

b) O currículo dado aos professores e aos materiais: É preciso que os professores ponham em prática ações concretas para desenvolver o currículo a eles incumbido. Assim, com o auxílio de guias curriculares, livros-textos, etc, precisam, através de processos ensino-aprendizagem, efetivamente cumprir o estipulado nos currículos escolares;

 

c) Um grupo de alunos por possibilidades e necessidades concretas: Toda a aprendizagem surge da interação do novo com o existente, por isso é preciso levar em conta a vida pregressa e as necessidades individuais dos alunos. Ao contrário do que expunham os planos altamente estruturados, que buscavam um modelo universal válido para todos os educandos, os professores devem entender o ensino como um processo singular.

 

Por outro lado, as soluções que o professor pode dar em relação aos problemas com os quais se depara podem ser:

 

a) Os dilemas ou possibilidades de planejamento: O professor deve decidir se faz um plano para toda sua disciplina, para uma unidade concreta, para um conteúdo delimitado, etc, defronte a um rol de possibilidades bastante extenso;

 

b) Previsão global de metas: O professor deve sempre ficar atento quanto às metas que se propôs alcançar, e ter em mente uma certa visão do que servirá para os alunos os trabalhos que realiza com eles;

 

c) Experiência prévia: Ao mesmo tempo que a experiência prévia dos professores mostra-se bastante útil na condução de situações delicadas surgidas no processo ensino-aprendizagem, revela seu lado negativo ao acomodar o professor, inibindo-o de buscar novas soluções para seus problemas;

d) Materiais disponíveis: Os recursos que o professor dispõe, não apenas os livros-texto, e sua capacidade para aproveitar e buscar materiais fora das salas de aula, auxiliam-no a escolher as atividades que melhor se enquadrarem ao que pretende. A própria experiência que o educador possui o fará buscar materiais apropriados, mais variados e atrativos para os alunos.

 

 

A utilidade do plano para os professores

 

A utilidade fundamental do plano curricular desenvolvido pelos professores está nas seguintes razões:

 

a) Facilita o enriquecimento profissional, por ser uma atividade que leva o professor a refletir sobre a prática de ensino;

 

b) O plano determina as linhas gerais das atividades que serão desenvolvidas, o que serve como referencial a ser seguido pelos professores;

 

c) O plano aproxima os educadores de seus educandos, pois alia o pensamento e a teoria com a ação de educar;

 

d) Os planos, sendo referenciais de ações, dão mais segurança ao professor no desenvolvimento de suas atividades;

 

e) Os planos prévios forçam o professor a buscar materiais de trabalho para suas aulas, deixando de basear-se pura e simplesmente no livro-texto;

 

f) Os planos do professor, uma vez conhecidos e discutidos com os alunos, mostram-se uma forma de criar laços de comprometimento entre educador e educando;

 

g) Os planos dos professores, somados aos registros efetuados em um diário de classe, mostrando a forma como foi desenvolvida a atividade, revelam-se uma boa forma de compartilhar informações com colegas do magistério;

 

h) Se, depois de experimentados, os planos mostrarem-se positivos, serão um bom recurso para avaliar processos educativos.

 

 

Dimensões de um modelo prático

 

Quanto às dimensões de um modelo de planos, não há uma fórmula mágica a se apresentar: o seu sucesso dependerá da situação particular de cada caso. Porém pode-se dar algumas sugestões:

 

a) Metas e objetivos: É necessário que o professor entenda perfeitamente quais são suas metas e objetivos antes de começar a elaborar o seu plano. Convém que reflita sobre suas finalidades e compare as conseqüências do que faz com os objetivos propostos;

 

b) Decisão de conteúdos: Planejar um currículo exige que o professor domine a matéria que irá transmitir aos seus alunos, que conheça os seus conteúdos a fundo para poder escolher os que mais interessarem em determinado momento;

 

c) Organização do conteúdo: Na organização dos conteúdos deve-se abordar dois tipos de opções: os pontos de referência em torno dos quais agrupar o conteúdo (temas, unidades didáticas, lições) e a seqüência ou ordem dos mesmos;

 

d) Tarefas ou oportunidades de aprendizagem: Enquanto os objetivos e co

 

nteúdos estiverem somente no papel, mostram-se inúteis, sua utilidade aparecerá quando forem efetivamente praticados. É necessário uma interação entre o estudante com o conteúdo para que se processe de fato a aprendizagem. Assim, os professores, ao analisar e selecionar as atividades, devem levar em conta a coerência com os fins gerais da educação, a capacidade para extrair possibilidades educativas genuínas de uma disciplina, ver o grau de motivação, globalidade e estruturação da atividade, etc;

 

e) Apresentação do conteúdo e dos materiais: Grande parte dos conteúdos do currículo necessitam de um suporte sobre o qual os alunos irão desenvolver suas atividades. Esses suportes poderão ser gráficos, imagens fixas, filmes, etc. Grande importância deve-se dar ao livro-texto, porque em torno de seu uso será organizada boa parte das atividades dos alunos;

 

f) Produção exigida ao aluno: Para um professor poder avaliar os seus alunos, precisa que estes desenvolvam uma série de atividades, tais como resumos de textos, provas orais e verbais, etc. Porém quanto maior for o número de meios empregados, maior será a probabilidade de uma boa avaliação;

 

g) A consideração das diferenças individuais: A aprendizagem é um processo que varia de aluno para aluno, mas ante a esta verdade buscar métodos específicos para cada aluno ou adaptar materiais para as necessidades de alunos com carências especiais está fora do alcance da maioria das escolas e professores da atualidade. Porém em relação às diferenças individuais, os professores podem optar por uma organização flexível de seu trabalho, que permita a expressão das pecularidades e uma atenção diversificada aos estudantes dentro da sala de aula;

 

h) A participação e o compromisso dos alunos: Uma preocupação básica dos professores é que o ensino flua com naturalidade, e para tanto é necessário um certo compromisso e comprometimento do aluno com as tarefas estipuladas. Para que isso aconteça o conteúdo e as atividades devem adequar-se às possibilidades dos alunos e representar desafios estimulantes. Desta forma a educação deve ser atrativa e produto de uma colaboração entre professores e alunos, união de fatores que só tende a trazer resultados positivos;

 

i) Adequação ao cenário: A atividade de ensino realiza-se em um determinado espaço físico, e cabe aos professores ordenar o mobiliário e os recursos didáticos existentes, distribuindo-os na melhor forma possível na sala de aula;

 

j) Avaliação: A avaliação é uma exigência formal e que causa muito impacto em todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Assim, cabe ao professor fazer com que seja o menos traumática possível, através da escolha de melhores técnicas, do momento certo de realizá-las, definindo o real objetivo das mesmas, etc.

Fonte:http://www.pedagogiaaopedaletra.com.br

 

 

 

 

 

 

E se os médicos fossem americanos ? Por que os conselhos médicos passavam a mão na cabeça (notável) do Dr Abdelmassih ?

Procurador Geral do Trabalho quer explicações sobre médicos de Cuba


Ministério Público do Trabalho quer detalhes sobre a contratação dos médicos.

Representante do Ministério Público do Trabalho, em trepidante entrevista, nesta sexta-feira, a “suaves apresentadores” da GloboNews, teceu severas críticas à política de Saúde do Governo.

Omitiu-se, porém, quanto à Política Externa, à de Geração de Hidreletricidade e a Bolsa Família.

Mas, quase !

O guardião da CLT (oh !, Vargas, onde estás ?) deu a entender, por elipse, diante do obsequioso silencio dos “suaves”, que os médicos cubanos trabalham sob regime de Escravidão.

(Bom era no tempo do Fulgêncio Batista !)

O amigo navegante provavelmente não assistirá a espetáculo mais deprimente e revelador do que essa resistência feroz à vinda de médicos estrangeiros.

Na verdade, a reação não é a médicos estrangeiros em geral, mas, porque, desde sempre, se soube que  os cubanos viriam, como vão, com competência de abnegação, a mais de 60 países no mundo.

Os cubanos virão para trabalhar onde os médicos brasileiros NÃO vão !

E é melhor que os brasileiros morram a serem atendidos por cubanos comunistas.

A campanha de ódio contra o Mais Médicos é a representação mais crua do reacionarismo brasileiro.

Da resistência dessa elite, que, segundo o Mino, é a pior do mundo !

Como diz a amiga navegante baiana, e se os médicos cubanos fossem americanos ?

O que diria o Conselho Federal de Medicina ?

E o Conselho Regional de Medicina de São Paulo ?

O mesmo CRM que abrigou sob cumplicidade renovada as atividades do notável médico brasileiro Dr Roger Abdelmassih.

Viva o Brasil !

O consolo é que o Padilha vem aí, do jaleco branco !

E vamos ver o Alckmin levar o CRM para o palanque.

Paulo Henrique Amorim

Fonte:conversaafiada.com.br

Bibliografia PEB II – Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos – Anisio Texeira

Maria de Lourdes de A. Fávero

Coordenadora do PROEDES/FE/UFRJ

 

 

TEIXEIRA, Anísio. Educação não é privilégio. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1957.

 

 

Considerando a relevância das questões abordadas neste livro, embora ele já tenha sido objeto de outros comentários e resenhas, dispus-me a reexaminá-lo, destacando aspectos que podem despertar interesse para os leitores.

Numa visão geral sobre a obra de Anísio Teixeira e sua trajetória profissional, é comum reconhecer ter ele deixado marcas não apenas como pensador e político da educação, mas também como administrador. Tendo vivenciado os múltiplos problemas levantados pela realidade do ensino e da administração pública, além de produzir reflexões, definir posições, propor e construir modelos para a organização do sistema educacional brasileiro dos anos 20 aos 60, é relativamente fácil distinguir a permanente atualidade dos grandes temas com os quais Anísio se empenhou, na luta pela educação como um direito de todos e pela defesa da escola pública. Tais propostas estão presentes neste livro, defendidas como pressupostos de democracia.

Em sua primeira edição, de 1957, Educação não é privilégio reunia duas conferências: a primeira, sob o mesmo título, proferida na Escola Brasileira de Administração Pública (EBAP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, em 1953, e a segunda, “A Escola pública, universal e gratuita”, pronunciada, em setembro de 1956, no Primeiro Congresso Estadual de Educação, em Ribeirão Preto, São Paulo.1 A referida edição traz também um anexo: “A Associação Brasileira de Educação e o ensino público”. Além desta, foram publicadas mais quatro edições: a segunda, revista e ampliada pelo autor, foi lançada em 1968, contendo as duas conferências incluídas na primeira edição, mais um terceiro capítulo, “Educação e formação nacional do povo”; o pronunciamento da ABE é mantido como anexo. A terceira edição, publicada em 1971, após a morte de Anísio, mantém a mesma estrutura da segunda. A quarta, datada de 1977, inclui o ensaio “Fundamentos democráticos da educação”, que veio a constituir o capítulo inicial do livro Educação é um Direito (Cassim, 1994, p. 22). Em 1994, dando início ao projeto de reedição das obras de Anísio Teixeira, foi publicada a 5ª edição pela Editora UFRJ, organizada e comentada por Marisa Cassim e contendo um texto analítico de Clarice Nunes sob o título “Prioridade número um para a educação popular”. Em 1999, é lançada a 6ª edição, no mesmo formato.2

Feitas essas observações, centrarei minha atenção nas duas conferências publicadas desde a primeira edição, por considerá-las mais importantes, tomando por base a 5ª edição. Leitura atenta das mesmas permite observar que em ambas o autor focaliza questões que já vinham sendo discutidas e trabalhadas por ele desde os anos 20, quando assumiu a Secretaria de Instrução Pública da Bahia (1924-1928), pouco depois a do Distrito Federal (1931-1935) e de novo a da Bahia (1947-1951). A atualidade das propostas defendidas por Anísio nessas conferências se expressa nos mais diversos aspectos de política educacional, como: organização do sistema público de ensino; gestão da educação pública; papel e deveres do Estado em relação à educação; formação e aperfeiçoamento do magistério; acesso e permanência na escola pública.

Florestan Fernandes, analisando esses dois textos, assinala que merecem atenção especial, porque, mesmo que os temas e idéias já tivessem sido abordados em outros momentos, “desta vez, o balanço da situação educacional brasileira é feito de uma perspectiva unitária e globalizadora, tanto no que concerne ao diagnóstico dos problemas e deficiências da estrutura ou do funcionamento do novo sistema educacional, quanto no que diz respeito à formulação da política educacional a seguir, para a solução daqueles problemas e deficiências” (Fernandes, 1966, p. 561).

A primeira conferência teve um público restrito – professores, alunos e técnicos da EBAP/FGV – e caracteriza-se como um momento em que o autor realiza uma reflexão sobre a política educacional para o ensino básico. Nessa ocasião, apresentou de forma sucinta alguns marcos históricos e as vicissitudes de uma educação para a “formação do homem comum”, insistindo que “a escola não mais poderia ser a instituição segregada e especializada de preparo de intelectuais ou ‘ escolásticos’, mas deveria transformar-se na agência de educação dos trabalhadores comuns, dos trabalhadores qualificados, dos trabalhadores especializados em técnicas de toda ordem e dos trabalhadores da ciência nos seus aspectos de pesquisa, teoria e tecnologia” (Teixeira, 1994, p. 45).

Mas Anísio não se preocupa apenas com o ensino primário. Para ele: “em todas as modalidades […] o ensino se tem de fazer pelo trabalho, e não somente pela palavra e pela exposição”. Reconhece ser tudo isso “[…] de certo modo ainda marginal e extraordinário. Regulares e sistemáticas são as formas arcaicas de ensino pela ‘ exposição oral’ e ‘ reprodução verbal’ de conceitos e nomenclaturas, mais ou menos digeridos por simples ‘ compreensão’, as quais dominam em boa parte a escola primária, e, esmagadoramente, a escola média, sobretudo a secundária, e a maior parte das escolas superiores” (Ibid., p. 46).

No entanto, ele percebe que se o ensino se opõe à prática, à experimentação e ao trabalho, se persiste o dualismo escolar, impõe-se lutar por uma nova política educacional em que seja oferecida ao brasileiro uma escola primária capaz de lhe dar a formação fundamental indispensável ao seu trabalho, tendo-se presente que a escola primária não é, precipuamente, uma escola preparatória para estudos ulteriores. Sua finalidade é, como o próprio nome revela, ministrar uma educação de base, capaz de habilitar o homem ao trabalho nas suas formas mais comuns (Ibid., p. 63). Assim sendo, complementa: “[…] não pode ser uma escola de tempo parcial, nem uma escola somente de letras, uma escola de iniciação intelectual, mas uma escola sobretudo prática, de iniciação ao trabalho, de formação de hábitos de pensar, hábitos de fazer, hábitos de trabalhar e de conviver e de participar em uma sociedade democrática, cujo soberano é o próprio cidadão” (Ibid., p. 63).

Com tais preocupações, insiste Anísio que não se pode cogitar de oferecer essa formação em uma escola de tempo parcial, com períodos reduzidos ou curtos do ano letivo, tal como era e ainda é a escola brasileira. Como decorrência defende a instituição do tempo integral, tendo um programa enriquecido com atividades práticas. Uma escola em que seriam dadas oportunidades de formação de hábitos de vida real, uma escola como um espaço concreto de estudo, de atividades de trabalho, de recreação e de arte (Teixeira, 1994, p. 63).

Essa “escola comum” deveria ser, também, uma “instituição essencialmente regional, enraizada no meio local, dirigida e servida por professores da região, identificada com seus mores, seus costumes” (Ibid., p. 64). Quem faça um exame atento dessas questões e propostas de Anísio certamente irá inferir que não é a primeira vez que o educador apresenta uma solução para as vicissitudes da escola básica no país. Gerindo a Instrução Pública do então Distrito Federal (1931-1935), Anísio lutou pela implantação de um verdadeiro sistema de ensino, criando serviços centralizados de matrícula, de freqüência e obrigatoriedade escolar; organizou um sistema de ensino que se estendia do pré-escolar à universidade.

Consciente da necessidade de modernização do ensino primário, da escola básica, preocupa-se, igualmente, com a formação do professor. Considerava ele tão relevante e complexa a atividade do professor primário que sua formação deveria elevar-se ao nível superior.

Outro aspecto a salientar é que, desde os anos 30, ele defende que “o ensino tem de se fazer pelo trabalho” e de, forma enfática, retoma esse tema na conferência “Educação não é privilégio”. A questão é tratada com toda clareza quando discute o problema do dualismo escolar, na primeira conferência (Teixeira, 1994, p. 55 ss.).

Nessa mesma linha, propõe reorientar o ensino secundário, como já vinha pensando desde os anos 30, por entender que esse ensino não deveria ser “um ensino especificamente seletivo, mas simplesmente um ensino para o adolescente, o ensino que o país deve ministrar aos indivíduos entre 11 e 18 anos […]” e que o sistema de escolas secundárias fosse “organizado com a maior flexibilidade possível, para prover uma escola rica e livre, de acordo com as aptidões e interesses dos alunos, aptidões e interesses que nascem do intercurso de suas personalidades com o meio ambiente […]”. Dentro dessa qualidade ampla da escola secundária, caberia a finalidade seletiva: preparar a elite do país. “Mas, tal elite longe de ser única, a elite intelectual, diríamos intelectualista, deve compor-se de elites parciais em todas as atividades, em todas as classes, inclusive a dos trabalhadores intelectuais” (apud Luvisolo, 1990, p. 61-62). Apoiando-se nessas premissas, Anísio critica, naquela década, o projeto de reforma do ensino secundário do ministro Francisco Campos, em discussão em 1931, que se voltava apenas para a formação de uma elite intelectual, por julgá-lo uma solução incompleta do problema e de certo modo perigosa, além de contribuir para manter a concepção dualista que, inconscientemente, é alimentada, “de uma educação profissional para o povo e os elementos menos ambiciosos ou menos afortunados da sociedade e uma educação acadêmica de classe” (apud Luvisolo, 1990, p. 62). Tal organização escolar era considerada por ele antidemocrática, originando-se “de um dualismo filosófico entre cultura e trabalho” (Teixeira, 1997, p. 214).

É pertinente frisar, no entanto, que para Anísio, como educador e administrador, o segmento mais importante da educação era o primário. Talvez tenha sido essa a razão pela qual, durante sua gestão como secretário de Educação da Bahia, de 1947-1951, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, mais conhecido como a Escola Parque, passou a ser a obra norteadora de uma política educacional para o estado. Esse Centro é instituído como contraponto à improvisação da escola primária existente, objeto das críticas de Anísio nessas conferências e que ele já deixara muito claras no discurso por ocasião da inauguração do mesmo. É o que ele propõe naquela ocasião: “[…] desejamos dar, de novo, à escola primária o seu dia letivo completo. Desejamos dar-lhe o seu programa completo de leitura, aritmética e escrita, e mais ciências físicas e sociais, artes industriais, desenho, música, dança e educação física. Além disso, desejamos, também, que a escola eduque, forme hábitos, forme atitudes, cultive aspirações, prepare realmente a criança para a sua civilização […]; desejamos que a escola dê saúde e alimente à criança, visto não ser possível educá-la no grau de desnutrição e abandono em que vive” (apud Abreu, 1960, p. 57-59).

Evidentemente, a generalização de uma escola básica com tais requisitos constituía, ontem como hoje, um desafio à administração pública da educação ante os múltiplos encargos que ela implica, particularmente em termos de recursos humanos e financeiros. Lá mesmo no estado da Bahia, as administrações posteriores à de Anísio não parecem haver se empenhado nessa generalização, tanto que nem mesmo se cogitou de uma segunda Escola Parque. Como enfatizava, educação boa e de qualidade é cara, exige investimento à altura e é uma opção política.

A saída mais fácil da tradição escolar brasileira era manter a “nossa tendência visceral para considerar a educação um processo de preparo de alguns indivíduos para uma vida mais fácil e, em rigor, privilegiada. E adverte: “como este ensino não chega a formar o ‘ privilegiado’, aquela tendência provoca a deterioração progressiva deste ensino, sobretudo depois que passou ele a contar realmente com esmagadora freqüência popular” (Teixeira, 1994, p. 50). Lamentavelmente, é fácil observar ao longo desses anos que as advertências vigorosas de Anísio continuam válidas ainda hoje, quando a educação de qualidade que ele imaginava, a educação que desejava comum ao povo brasileiro, ainda hoje não passa de privilégio de alguns.

Como se pode depreender, os pressupostos defendidos por Anísio, em 1953, não eram meras abstrações, resultavam do pensamento e ação de um educador e administrador que em vários momentos de nossa história tentara construir programas alternativos para o sistema de educação. Tudo isso, para ele, no entanto, era um processo em construção e exigia tempo.

A segunda conferência, “A Escola pública universal e gratuita”, foi proferida em Ribeirão Preto, em setembro de 1956, durante o Congresso Estadual de Educação do Estado de São Paulo. As reações a essa conferência foram múltiplas, em particular da Igreja e dos educadores católicos, dando origem à defesa da ABE, publicada anexa ao livro. De acordo com Florestan Fernandes, “no diagnóstico da situação educacional brasileira, o autor chega a resultados brilhantes. Os fatores responsáveis pela deterioração ou pela perversão do ensino primário, do ensino secundário, do ensino profissional ou do ensino superior são apontados com grande argúcia e penetração” (1966, p. 561). Nessa conferência, Anísio deixa passar a idéia da incapacidade do país para estender a educação a todos, para criar um escola pública e democrática, ressaltando: “Não bastava, porém, que as escolas não fossem más. Era necessário que fossem bastantes. E aí é que falhou inteiramente a pregação republicana, que, muito a propósito, acabamos de evocar quanto a São Paulo. Sem pretendermos ser exaustivos na perquirição de causas, limitamo-nos sem falseamento a dizer que nos faltou vigor para expandir a escola a seu tempo, quando os seus padrões eram bons ou razoáveis ainda, e o processo histórico não havia sofrido os impactos de aceleração dos dias atuais. Um persistente, visceral sentimento de sociedade dual, de governantes e governados, impedia que nos déssemos conta da urgência de expandir a educação do povo, parecendo-nos sempre que bastaria a educação das elites, já sendo suficientes (senão mais do que suficientes) as poucas escolas que mantínhamos para o povo e pelas quais nem ao menos tínhamos o cuidado de preservá-las ou aperfeiçoá-las, como boas amostras ou modelos” (Teixeira, 1994, p. 87).

E acrescenta: “A República veio acordar-nos da letargia. Iniciamos, então, uma pregação, que lembra a pregação da segunda metade do século dezenove nas nações então em processo de democratização e da qual nos deram uma amostra as citações que fizemos de educadores paulistas. Tal pregação não chegava, porém, a convencer sequer a elite, supostamente lúcida. Ela continuava a acreditar visceralmente, que o dualismo de estrutura social, a dicotomia de senhores e súditos, de elite governante e povo dependente e submetido, havia de subsistir e de permitir ‘ a ordem e o progresso’, mediante a educação apenas de uma minoria esclarecida” (Ibid., p. 89).

Anísio preocupa-se e empenha-se não apenas em discutir, mas propor o que fazer para restaurar o sentido democrático da expansão educacional brasileira. Nessa perspectiva, reconhece não ser suficiente apenas a mudança do conceito de escola, mas que ela seja, “no campo da educação comum, para todos, dominantemente pública” (1994, p. 98). De forma clara, assinala: “Não advogamos o monopólio da educação pelo Estado, mas julgamos que todos têm o direito à educação pública, e somente os que quiserem é que poderão procurar a educação privada. Numa sociedade como a nossa, tradicionalmente marcada de profundo espírito de classe e de privilégio, somente a escola pública será verdadeiramente democrática e somente ela poderá ter um programa de formação comum, sem preconceitos contra certas formas de trabalho essenciais à democracia” (Ibid., p. 99).

Ou seja, o que o autor vislumbrava, numa sociedade como a nossa, é uma escola pública entendida como um espaço de “igualização” das classes, aproximação social e eliminação de preconceitos. Para tanto, propunha soluções como a municipalização da escola primária, a autonomia da escola média e da superior. Mas a prioridade básica é a escola primária – pública, universal e gratuita -, espaço de sólida educação comum, com currículo completo e horário integral.

Essas colocações reiteradas de Anísio levaram-no a afirmar com suave ironia, em 1958: “Costuma-se dizer que, para um autor, pior do que repetir os outros, é repetir a si mesmo. Ai de mim! Que, neste trabalho, nada mais faço do que repetir-me. Várias outras publicações minhas, embora sob outro ângulo, abordam, com efeito, o mesmo tema. Escrevendo, porém, sempre sob a pressão das circunstâncias e da ação, não consigo facilmente afastar-me dos temas centrais que inspiram toda a minha atuação. Essas teses vão e vêm em meus escritos como um leit-motif de toda uma existência de educador”.3

Essa segunda conferência, como assinala Nunes (1994), constituiu “um estopim” que desencadeou reações em cadeia contra as posições de Anísio, duramente criticado por conservadores – católicos e privatistas – e, em contrapartida, enaltecido por educadores, cientistas e instituições comprometidos com a escola pública

Entre as reações mais contundentes destaca-se o memorial assinado pelo arcebispo metropolitano e pelos bispos da Província de Porto Alegre encaminhado ao presidente Juscelino Kubitscheck, discordando das posições de Anísio em defesa da escola pública e solicitando ao presidente “as providências necessárias e inadiáveis para cessação desse estado de coisas, tão nefasto […] aos mais legítimos e excelsos interesses nacionais” (RBEP, n. 70, p. 67). Em julho de 1958, reunida em Goiânia, a cúpula da Igreja Católica divulgou uma declaração, em que reitera seu posicionamento no sentido de que educar é obra da família e que a escola do Estado deve existir onde não pode existir a escola particular.

Tais fatos provocaram também manifestações de apoio e de solidariedade de cientistas e professores, através de manifestos, mensagens e moções, como: “Manifesto de 529 Educadores”, documento enviado a Anísio Teixeira, em 22.4.1958, e publicado na imprensa diária; ” Mensagem de um Grupo de Cientistas”; “Moção da Diretoria da Associação Brasileira de Educação”; “Manifesto de Professores da Universidade de São Paulo”; “Manifesto dos Professores da Faculdade de Filosofia de São José do Rio Preto”, entre outros.4

Reagindo ao “Memorial dos Bispos do Rio Grande do Sul”, Anísio deixa claras mais uma vez as diretrizes que orientavam sua vida de educador e suas atividades à frente do INEP. Para evitar reiteradas incompreensões, enuncia seu posicionamento em simples afirmações e negações do que ele propugna e o que combate, em documento intitulado “Por uma escola primária organizada e séria para a formação básica do povo brasileiro”, distribuído à imprensa pelo educador em 15 de abril de 1957.5 O presidente da República, mesmo com a pressão de membros da hierarquia católica, mantém Anísio Teixeira na Direção do INEP e da CAPES.

Enfim, o pensamento e a atuação de Anísio, expressos nessas duas conferências, podem ser sintetizados em três grandes eixos: a defesa da escola pública universal, a defesa da democracia e a defesa da liberdade, como espaço próprio da educação.

 

 

Referências bibliográficas

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BEISIEGEL, Celso, (1984). Resenha do livro “Educação não é Privilégio” Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 65, n. 150, p. 491-493, maio/ago.         [ Links ]

CASSIM, Marisa. “Apresentação”. In: Teixeira, Anísio. Educação não é Privilégio. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, p. 17-35.

EDUCAÇÃO, AÇÃO SOCIAL E POLÍTICA, (1958). Declaração de Cardeais, Arcebispos e Bispos do Brasil, reunidos em Goiânia, julho. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 30, n. 72, p. 84-88, out./dez. 1958.         [ Links ]

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LUVISOLO, Hugo, (1990). A Tradição desafortunada: Anísio Teixeira, velhos textos e idéias atuais. In: Almeida, Stela Borges de (org.). Chaves para ler Anísio Teixeira. Salvador: EGBA/UFBA, p. 11-85.

NUNES, Clarice, (1994). Prioridade número um para a educação popular. In: Teixeira, Anísio: Educação não é Privilégio. 5ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, p. 197-250.

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Notas

1 As duas conferências foram publicadas pela primeira vez na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, n. 63 e 64, 1956.
2 Como parte desse projeto, a Editora UFRJ publicou até o momento, além dessa obra, as seguintes: Educação é um Direito, 2ª ed. 1996; Educação no Brasil, 3ª ed. 1999; Educação para a Democracia: introdução à administração educacional, 2ª ed. 1997 e Educação e Universidade, 1998.Todas contêm apresentação escrita por um educador familiarizado com o pensamento e a ação de Anísio Teixeira.
3 Apresentação da tese Educação é um Direito destinada ao concurso jamais realizado para a cátedra de Administração Escolar e Educação Comparada da Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, 1958.
4 Os pronunciamentos mencionados, bem como o “Memorial dos Bispos do Rio Grande do Sul”, foram publicados na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 29, n. 70, abr.-jun. 1958. A primeria parte da declaração dos prelados da Igreja Católica, saiu na mesma revista v. 30, n.72, p. 84-88, sob o título “Educação, ação social e política”.
5 A respeito, consultar a mesma Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v.29, n. 70, p. 68-70, abr.-jun., 1958. Outros pronunciamentos pró e contra os princípios e propostas desse educador, em defesa da escola pública e gratuita, poderão ser examinados no texto de Clarice Nunes, citado (1994, p. 197-250).

Bibliografia PEB II – Etica e Competência

Ética e Competência de Terezinha Azerêdo Rios

 

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RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e competência. 10. Ed. São Paulo: Cortez, 2001. – (Coleção Questões da Nossa Época; v.16)

 

Terezinha Azerêdo Rios é mestra em Filosofia da Educação pela PUC – SP. Exerce a função de professora de filosofia da educação, e já escreveu várias obras filosóficas e cunho educacional. Ética e competência já está em sua décima edição e foi publicada em 2001, pela editora Cortez, a qual está localizada na cidade de São Paulo.

 

O pensamento de Terezinha Azerêdo tem uma forte relação com outros teóricos, que tem como temática a ética e competência, pois esta pode contribuir e muito com o contexto frente a um mundo globalizado inerente a educação, sociedade e trabalho; relacionando a uma íntima ligação entre a formação do educador e o aprendizado do discente em relação à dimensão técnica e dimensão política caracterizando a tese em uma reflexão filosófica sobre a educação relacionando-se a ética e a filosofia política, atribuindo as relações entre a educação, cultura e sociedade, no entanto, essas dimensões têm significados dicotômicos, e para isto a autora procura esclarecer os leitores sobre o seu sentido denotativo de significado e de uso. A professora Terezinha faz sempre um paralelismo entre os seus subtemas com o tema, e esta ligação íntima de idéias torna claro o objetivo e conciso os pontos por ela elencados na sua obra igualmente a correlação entre a filosofia e a compreensão da realidade, no qual ela traz à lume a reflexão filosófica a respeito da educação, estendendo-se ao campo da ética e da filosofia política.

 

Outra comparação que ela analisa e discorre é sobre a educação e a sociedade sob o olhar da política e da prática educativa, procurando nos chamar a atenção sobre alguns pontos relevantes da escola em nossa sociedade, e nestas perspectivas a professora se dedica ao terceiro capítulo com o tema: “As dimensões da competência do educador”, que é nada mais do que a reflexão através de um objeto central que é a ética relacionada à competência política e a técnica utilizada pelo professor.

 

O último paralelismo que a professora em filosofia nos esclarece é a “competência e a utopia”, no qual ela nos transporta a uma prática profissional adequada e justa a nossa sociedade e ao trabalho por projetos para desenvolver habilidades e competências para que os educandos possam exercer cidadania crítica, conscientes e participativos em nosso meio social, mormente capitalista. A autora reflete sobre a aplicação e aplicabilidade dos projetos numa visão utópica unida a uma ação competente, em que se objetiva e nos traz a luz uma nova educação do futuro que começa conosco, jovens profissionais da educação.

 

Na obra, Ética e competência, nos esclarece sobre alguns epítomes dos principais temas que estão em discussão na atualidade e sua leitura é indicada essencialmente aos profissionais de educação que conhecem os problemas enfrentados na sua área de educação.

 

É possível inferir através da análise da obra de Terezinha Azerêdo Rios, muito mais que as dimensões do educador, as quais são colocadas no livro, Ética e Competência, pois durante a leitura há possibilidades de nos remeter ao pensamento da educação em seu sentido amplo, em que se percebe a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade que têm possibilidades de serem visualizadas quando se trata da educação para se viver melhor nos contextos de vida da contemporaneidade do educador e da educação que se faz necessária com a qualidade de romper paradigmas, de ir além do saber técnico e teórico para abranger o saber filosófico de vida com visão mais ampla e transcendente, visto que, a vida não é departamentalizada e, desse modo, a educação fragmentada pouco consegue contribuir para a qualidade humana de vivência nos contextos sociais.

Autor: Ronye Márcio Cruz de Santana

Bibliografia PEB II – A escola e o conhecimento: Fundamentos Epistemológicos e Políticos

RESENHA: A Escola e o Conhecimento: Fundamentos Epistemológico e Políticos

 

 

 

Por: Fábbio Xavier
Teólogo e Graduando em História


RESENHA: A Escola e o Conhecimento: Fundamentos Epistemológico e Políticos.

É impossível não ler Mario Sergio Cortella, sem passar pela temática da escola Nova, ao escrever o seu livro “A Escola e o conhecimento: fundamentos epistemológicos e políticos”, Cortella de forma prática e muito clara sempre embasada nos estudos e ensinamentos do grande pedagogo e educador Paulo Freire, coloca a Escola como um grande centro de pesquisa.

Mario Sergio Cortella traz uma análise concernente ao conhecimento que é produzido no interior da escola, seu livro é composto por cinco partes muito importantes para a compreensão da sua obra no todo, no primeiro capítulo traz como tema: Humanidade, cultura e conhecimento; no segundo: Conhecimento e verdade: a matriz da noção de descoberta; no terceiro: A escola e a construção do Conhecimento; no quarto: Conhecimento escolar: epistemologia e política e por fim ele conclui a sua obra com um quinto capítulo: Conhecimento, ética e ecologia.

Ao iniciar a análise desta obra, achei por bem iniciar o texto chamando para este diálogo o grande escritor Dermeval Saviane que na sua obra “Escola e Democracia” nos trás um grande discurso sobre como deveria ser uma escola democrática e autônoma, conforme podemos verificar nas suas palavras.
 
“A pedagogia nova começa, pois, por efetuar a crítica da pedagogia tradicional, esboçando uma nova maneira de interpretar a educação e ensaiando implantá-la, primeiro através de experiências restritas; depois, advogando sua generalização no âmbito dos sistemas escolares.” (SAVIANI, 2002, p. 7)
 
Perceba que Saviani coloca que a pedagogia nova tem esta característica de interpretar a educação através da experiência pessoal e principalmente dentro do ambiente escolar.

É perceber que o professor não é somente um mero transmissor do conhecimento, mas antes de tudo, ele é o mediador, será aquele que mostrará ao seu publico alvo como este conhecimento é construído, é poder trabalhar este ser humano que está em seu interior com cultura e conhecimento.

O autor coloca que existe uma luta constante através do tempo para conceituar o que significa ser humano, nos arremetendo aos conceitos filosóficos mais clássicos, como os de Aristóteles, Platão e ate os contemporâneos, como é o caso do escrito Fernando Pessoa, todos com seus conceitos.

 Cortella deixa bem claro que todo profissional que trabalha com a educação, antes de tudo, ele trabalho com uma ferramenta chamada conhecimento, que será o objeto principal de nossas atividades. Portanto, não podemos olhar para este objeto apenas com um olhar cientifico. E como diferenciar esta visão? Observando o conhecimento que é produzido no dia-a-dia no interior da escola.

Observe o que nos diz Cortella “Por isso, e para que possamos pensar o tema do conhecimento e, a partir dele, produzir uma reflexão que nos ofereça mais fundamentos para nossas práticas pedagógicas” (2009, p. 23), é pela prática do conhecimento que proporcionará aos profissionais da educação seus valores. 

Cortella tem o cuidado de conceituar de forma muito clara o que é, de onde vem, e como chegar ao conhecimento, que é uma ferramenta de suma importância para o educador, e traça um acompanhamento histórico e filosófico para tal finalidade, passando por filósofos importantes como Sócrates e Platão.

Quando Cortella coloca que a Escola é o local do conhecimento, subentende que ele está querendo nos deixar bem claro que a experiência vivida por cada educador acontece no campo prática vivenciada, no seu livro Pedagogia da autonomia de Paulo Freire coloca que não pode existir docente sem discente, ou seja, todo professor sempre será um eterno aluno.

Ao analisar o conhecimento como algo acabado, pronto e massificado é um perigo muito grande para o profissional da educação, é justamente dentro deste contexto que entra a proposta da escola nova, de colocar o professor não apenas como um mero transmissor do conhecimento para os seus alunos, mas como um mediador que não apenas leve o conhecimento, mas que indique quais os caminhos para se alcançar este conhecimento. Podemos verificar este posicionamento nas palavras de Cortella (2009, p. 95):
 
Não há conhecimento que possa ser apreendido e recriado se não se mexer, inicialmente, nas preocupações que as pessoas detêm; é um contra-senso supor que se possa ensinar crianças e jovens, principalmente, sem partir das preocupações que eles têm, pois, do contrário, só se conseguirá que decorem (constrangidos e sem interesse) os conhecimentos que deveriam ser apropriados (tornados próprios).
 
É importante observar que o espaço da escola é um local de aprendizagem em constantes transformações sociais, e o professor tem que ter os olhos abertos sem cercas para observar este ambiente que se chama escola.

Lembrando que as idéias sociológicas provocaram grandes alterações nas concepções pedagógicas, principalmente do ponto de vista epistemológico, que rejeitam os pressupostos idealistas, em contrapartida vemos os materialistas tradicionais contrapõem à dialética. (ARANHA, 2006).

Para finalizar a sua obra, Cortella traça um paralelo muito interessante acerca da ética dentro do processo da construção do conhecimento, quando falamos em ética logo nos vem à mente um sistema de regras do que podemos e não podemos fazer sobre as nossas escolhas.

É importante que a busca pelo conhecimento compartilhado venha ser trabalhado de forma ética, para que o profissional forme alunos integro comprometido com a pesquisa de forma verdadeiro sem máscaras e sem fingimentos.

Portanto, esta obra de Mario Sergio Cortella e sua tese do conhecimento é uma contribuição importantíssima no campo social, filosófico, político, cultural e intelectual tomando a escola como lugar de clímax, transporte e um importante veículo para disseminação de novo conceito de fazer educação. E, finalizo repetindo as palavras de Dermeval Saviani, eu acredito no poder da escola e em sua função de equalização social.
  
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.
 
CORTELLA, Mario Sergio. A Escola e o Conhecimento. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
 
ROCHA, Ruth. Minidicionário. São Paulo: Scipione, 1996.
 

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 35. ed. Campinas: Autores Associados, 2002.

Bibliografia PEB II – Concurso Para Professor do Estado SP

Piaget, Vygotsky e Wallon: Teorias Psicogenéticas em Discussão

Yves De La Taille

 

 

PARTE I – FATORES BIOLÓGICOS E SOCIAIS
O lugar da interação na concepção de Jean Piaget

Yves de La Taille
La Taille considera que nada há de mais injusto que a crítica feita a Piaget de desprezar o papel dos fatores sociais no desenvolvimento huma­no. O máximo que se pode dizer é que Piaget não se deteve sobre a questão, mas, o pouco que levantou é de suma importância.

Para o autor, o postulado de Wallon de que o homem é “genetica­mente social” (impossível de ser pen­sado fora do contexto da sociedade) também vale para a teoria de Piaget, pois são suas palavras: “desde o nas­cimento, o desenvolvimento intelec­tual é, simultaneamente, obra da so­ciedade e do indivíduo” (p. 12).

Para Piaget, o homem não é soci­al da mesma maneira aos seis meses ou aos vinte anos. A socialização da inteligência só começa a partir da aquisição da linguagem. Assim, no es­tágio sensório-motor a inteligência é essencialmente individual, não há socialização. No estágio pré-operatório, as trocas intelectuais equilibradas ainda são limitadas pelo pensamento egocêntrico (centrado no eu): as cri­anças não conseguem seguir uma referência única (falam uma coisa agora e o contrário daí a pouco), colocar-se no ponto de vista do outro não são autônomas no agir e no pen­sar. No estágio operatório-concreto começam a se efetuar as trocas inte­lectuais e a criança alcança o que Piaget chama de personalidade: indivíduo se submetendo voluntaria­mente às normas de reciprocidade e universalidade. A personalidade é o ponto mais refinado da socialização o eu renuncia a si mesmo para inse­rir seu ponto de vista entre os outros em oposição ao egocentrismo, e que a criança elege o próprio pensa­mento como absoluto. O ser social de mais alto nível é aquele que consegue relacionar-se com seus seme­lhantes realizando trocas em coope­ração, o que só é possível quando atingido o estágio das operações formais (adolescência).

O processo de socialização

A socialização vai do grau zero (recém-nascido) ao grau máximo (personalidade). O indivíduo mais evoluído pode usufruir tanto de sua autonomia quanto das contribuições dos outros.

Para Piaget, “autonomia significa ser capaz de se situar consciente e competentemente na rede dos diversos pon­tos de vista e conflitos presentes numa sociedade” (p. 17). Há uma “marcha para o equilíbrio”, com bases biológicas, que começa no período sensório-motor, com a construção de esquemas de ação, e chega às ações interiorizadas, isto é, efetuadas mentalmente.

Embora tudo pareça resumir-se à relação sujeito-objeto, para La Taille, as operações mentais permitem o conhecimento objetivo da natureza e da cultura e são, portanto, necessidades decorrentes da vida social. Para ele, Piaget não compartilha do “otimismo” de que todas as relações sociais favorecem o desenvolvimento. Para La Taille, a peculiaridade da teoria piagetiana é pensar a interação da perspectiva da ética (igualdade, respeito mútuo, liberdade, direitos huma­nos). Ser coercitivo ou cooperativo de­pende de uma atitude moral, sendo que a democracia é condição para o de­senvolvimento da personalidade. Diz ele: “A teoria de Piaget é uma grande defesa do ideal democrático” (p. 21).

Vygotsky e o processo de formação de conceitos
Morto Kohl de Oliveira
Substratos biológicos e construção cultural no desenvolvimento humano

A perspectiva de Vygotsky é sem­pre a da dimensão social do desenvol­vimento. Para ele, o ser humano constitui-se como tal na sua relação com o outro social; a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que molda o funcionamento psicológico do homem ao longo do de­senvolvimento da espécie (fïlogenética) e do indivíduo (ontogenética). O ser humano tem, assim, uma dupla natu­reza: membro de uma espécie biológi­ca que só se desenvolve no interior de um grupo cultural.

Vygotsky rejeitou a ideia de funções fundamentais fixas e imutáveis, “tra­balhando com a noção do cérebro como um sistema aberto, de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao longo da história da espécie e do de­senvolvimento individual” (p. 24). Para ele, o cérebro é formado por sistemas funcionais complexos, isto é, as fun­ções não se localizam em pontos específicos, mas se organizam a partir da ação de diversos elementos que atuam de forma articulada. O cérebro tem uma estrutura básica, resultante da evolução da espécie, que cada membro traz consigo ao nascer. Essa estrutura pode ser articulada de dife­rentes formas pelo sujeito, isto é, um mesmo problema pode ser soluciona­do de diferentes formas e mobilizar diferentes partes do cérebro.

Há uma forte ligação entre os pro­cessos psicológicos e a inserção do in­divíduo num contexto sócio-histórico específico. Instrumentos e símbolos construídos socialmente é que definem quais possibilidades de funcionamento cerebral serão concretizadas. Vygotsky apresenta a ideia de mediação: a rela­ção do homem com os objetos é medi­ada pêlos sistemas simbólicos (repre­sentações dos objetos e situações do mundo real no universo psicológico do indivíduo), que lhe possibilita planejar o futuro, imaginar coisas, etc.

Em resumo: operar com sistemas simbólicos permite o desenvolvimen­to da abstração e da generalização e define o salto para os processos psi­cológicos superiores, tipicamente hu­manos. Estes têm origem social, isto é, é a cultura que fornece ao indiví­duo o universo de significados (repre­sentações) da realidade. As funções mentais superiores baseiam-se na operação com sistemas simbólicos e são construídas de fora para dentro num processo de internalização.

O processo de formação de conceitos

A linguagem é o sistema simbóli­co fundamental na mediação entre sujeito e objeto do conhecimento e tem duas funções básicas: interação social (comunicação entre indivídu­os) e pensamento generalizante (sig­nificado compartilhado pelos usuári­os). Nomear um objeto significa colocá-lo numa categoria de objetos com atributos comuns. Palavras são signos mediadores na relação do ho­mem com o mundo.

O desenvolvimento do pensamen­to conceitual segue um percurso ge­nético que parte da formação de con­juntos sincréticos (baseados em nexos vagos e subjetivos), passa pelo pensa­mento por complexos (baseado em ligações concretas e factuais) e chega à formação de conceitos (baseados em ligações abstratas e lógicas).

Esse percurso não é linear e refe­re-se à formação de conceitos cotidianos ou espontâneos, isto é, de­senvolvidos no decorrer da atividade prática da criança em suas interações sociais imediatas e são, portanto, im­pregnados de experiências. Já os con­ceitos científicos são os transmitidos em situações formais de ensino-aprendizagem e geralmente começam por sua definição verbal e vão sendo ex­pandidos no decorrer das leituras e dos trabalhos escolares. Assim, o desen­volvimento dos conceitos espontâne­os é ascendente (da experiência para a abstração) e o de conceitos científi­cos é descendente (da definição para um nível mais elementar e concreto). A partir do exposto, duas conclusões são fundamentais:

1a – diferentes culturas produzem modos diversos de funcionamento psicológico;
2a – a instrução escolar é de enorme importância nas sociedades letradas.

Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência segundo Wallon

Heloysa Dantas
Wallon tem uma preocupação per­manente com a infra-estrutura orgâni­ca de todas as funções psíquicas. Seus estudos partem de pessoas com pro­blemas mentais, portanto, seu ponto de partida é o patológico, isto é, utiliza a doença para entender a normalidade.

Para Wallon, o ser humano é or­ganicamente social, isto é, sua estru­tura orgânica supõe a intervenção da cultura. A metodologia do seu traba­lho ancora-se no materialismo dialético, concebendo a vida dos organismos como uma pulsação permanen­te, uma alternância de opostos, um ir e vir permanente, com avanços e recuos.

A motricidade: do ato motor ao ato mental.

A questão da motricidade é o gran­de eixo do trabalho de Wallon. Para ele, o ato mental se desenvolve a partir do ato motor. Ao longo do desenvol­vimento mental, a motricidade ciné­tica (de movimento) tende a se redu­zir, dando lugar ao ato mental. Assim, mesmo imobilizada no esforço men­tal, a musculatura permanece em atividade tônica (músculo parado, ati­tude). A tipologia de movimento que Wallon adota parte de atos reflexos, passa pelos movimentos involuntários e chega aos voluntários ou praxias, só possíveis graças à influência ambiental aliada ao amadurecimento cerebral.

Ao nascer, é pela expressividade mímica que o ser humano atua sobre o outro. A motricidade disponível consiste em reflexos e movimen­tos impulsivos, incoordenados. A ex­ploração da realidade exterior só é possível quando surgem as capacida­des de fixar o olhar e pegar. A competência no uso das mãos só se com­pleta ao final do primeiro ano de vida, quando elas chegam a uma ação complementar (mão dominante e auxiliar). A etapa dominantemente práxica da motricidade ocorre para­lelamente ao surgimento dos movi­mentos simbólicos ou ideativos. O movimento, a princípio, desencadeia o pensamento. Por exemplo, uma cri­ança de dois anos, que fala e gesti­cula, tem seu fluxo mental atrofiado se imobilizada. O controle do gesto pela ideia inverte-se ao longo do de­senvolvimento. Há uma transição do ato motor para o mental.

As fases da inteligência – as etapas de construção do eu

No processo de desenvolvimento da inteligência há preponderância (a cada período mais marcado pelo afetivo segue-se outro mais marcado pelo cognitivo) e alternância de funções (a criança ora está mais voltada para a realidade das coisas/conhecimento do mundo – fases centrípetas, ora mais vol­tada para a edificação da pessoa/co­nhecimento de si – fases centrífugas).

1a fase: impulsivo-emocional (de zero a um ano). Voltada para o desen­volvimento motor e para a construção do eu. No recém-nascido, os movi­mentos impulsivos que exprimem des­conforto ou bem estar são interpreta­dos pelos adultos e se transformam em movimentos comunicativos atra­vés da mediação social; até o final do primeiro ano a relação com o ambi­ente é de natureza afetiva e a criança estabelece com a mãe um “diálogo tônico” (toques, voz, contatos visuais).

2a fase: sensório-motor e projetivo (de um a três anos). Aprenden­do a andar a criança ganha mais autonomia e volta-se para o conhe­cimento do mundo. Surge uma nova fase de orientação diversa, voltada para a exploração da realidade exter­na. Com a linguagem, inicia-se o do­mínio do simbólico.

3a fase: personalismo (três a seis anos). Novamente voltada para den­tro de si, a preocupação é agora construir-se como ser distinto dos demais (individualidade diferenciada). Com o aperfeiçoamento da linguagem, de­senvolve-se o pensamento discursivo. Sucedem-se uma etapa de rejeição (atitudes de oposição), outra de sedução do outro e conciliação (idade da graça) e outra de imitação (toma o outro como modelo).

4a fase: categorial (seis a onze anos). Voltada para o cognitivo, é a fase escolar. Ao seu final, há a superação do sincretismo do pensamen­to em direção à maior objetividade e abstração. A criança torna-se capaz de diferenciações intelectuais (pensa­mento por categorias) e volta-se para o conhecimento do mundo.

5a fase: puberdade e adolescên­cia (a partir dos onze anos). Nesta fase, caracterizada pela auto-afirmação e pela ambivalência de atitudes e sentimentos, a criança volta-se no­vamente para a construção da pes­soa. Há uma reconstrução do esquema corporal e o jovem tem a tarefa de manter um eu diferenciado (dos outros) e, ao mesmo tempo, integra­do (ao mundo), o que não é fácil.

PARTE II – AFETIVIDADE E COGNIÇÃO
Desenvolvimento do juízo moral e afetividade na teoria de Jean Piaget

Yves de La Taille
A obra “O julgamento moral da criança”(1932) traz implícita a relação que existe entre afetividade e cognição para Piaget, bem como a importân­cia que ele atribui à autonomia moral.

a) As regras do jogo
Segundo Piaget, toda moral con­siste num sistema de regras, sendo que a essência da moralidade deve ser procurada no respeito que o indi­víduo tem por elas. Piaget utilizou o jogo coletivo de regras como campo de pesquisa por considerá-lo paradi­gmático para a moralidade humana porque: é atividade inter-individual regulada por normas que podem ser modificadas e que provêem de acor­dos mútuos entre os jogadores, sen­do que o respeito às normas tem um caráter moral (justiça, honestidade..).

Piaget dividiu em três etapas a evolução da prática e da consciência de regras:

1a – anomia (até 5/6 anos): as cri­anças não seguem atividades com regras coletivas;
2a – heteronomia (até 9/10 anos): as crianças vêm as regras como algo de origem imutável e não como contrato firmado entre os jogadores; ao mesmo tempo, quando em jogo, in­troduzem mudanças nas regras sem prévia consulta aos demais; as regras não são elaboradas pela consciência e não são entendidas a partir de sua função social;
3a – autonomia: é a concepção adul­ta de jogo; o respeito às regras é visto como acordo mútuo em que cada jo­gador vê-se como possível “legislador”.

b) O dever moral
O ingresso da criança no univer­so moral se dá pela aprendizagem dos deveres a ela impostos pelos pais e demais adultos, o que acontece na fase de heteronomia e se traduz pelo “realismo moral” que tem as seguin­tes características:
•  a criança considera que todo ato de obediência às regras impostas é bom;
•  as regras são interpretadas ao pé da letra e não segundo seu espírito;
• há uma concepção objetiva de res­ponsabilidade: o julgamento é feito pela consequência do ato e pela
  intencionalidade.
c) A justiça
  A noção de justiça engloba todas as outras noções morais e envolve ideias matemáticas (proporção, peso, igualdade). Quanto menor a criança mais forte a noção de justiça imanente (todo crime será castigado, mesmo que seja por força da natureza), mais ela opta por sanções expiatórias (o castigo tem uma qualidade estranha ao delito) e mais severa ela é (acha que quanto mais duro o castigo, mais justo ele é). A partir dos 8/9 anos a desobediência já é vista como ato le­gítimo quando há flagrante injustiça.
As duas morais da criança e os tipos de relações sociais
Mesmo concordando que a mo­ral é um ato social, para Piaget o su­jeito participa ativamente de seu desenvolvimento intelectual e moral e detém uma autonomia possível pe­rante os ditames da sociedade.
As relações interindividuais são divididas em duas categorias:

•  coação: derivada da heteronomia, é uma relação assimétrica, em que um dos pólos impõe suas verda­des, sendo contraditória com o de­senvolvimento intelectual; cooperação: é uma relação simé­trica constituída por iguais, regida pela reciprocidade; envolve acordos e exige que o sujeito se descentre para compreender o ponto de vis­ta alheio; com ela o desenvolvimen­to moral e intelectual ocorre, pois ele pressupõe autonomia e supe­ração do realismo moral.

Em resumo: para Piaget, a coerção é inevitável no início da educação, mas não pode permanecer exclusiva para não encurralar a criança na heteronomia. Assim, para favorecer a conquista da autonomia, a escola pre­cisa respeitar e aproveitar as relações de cooperação que espontaneamente, nascem das relações entre as crianças.

Afetividade e inteligência na teoria piagetiana do desenvolvimento do juízo moral

Para La Taille, o notável na teoria piagetiana é que nela “não assistimos a uma luta entre afetividade e moral”(p.70). Afeto e moral se conju­gam em harmonia: o sujeito autôno­mo não é reprimido mas um homem livre, convencido de que o respeito mú­tuo é bom e legítimo. A afetividade adere espontaneamente aos ditames da razão. Ele considera que na obra “O juízo moral na criança” intui-se um Piaget movido por alguma “emoção”, que sustenta um grande otimismo em relação ao ser humano. No entanto, para ele, o estudo sobre o juízo moral poderia ter sido completado por ou­tros que se detivessem mais nos as­pectos afetivos do problema.

O problema da afetividade em Vygotsky

Morta Kohl de Oliveira
Vygotsky pode ser considerado um cognitivista (investigou processos in­ternos relacionados ao conhecimen­to e sua dimensão simbólica), embora nunca tenha usado o termo cognição, mas função mental e consciência. Para ele há uma distinção básica en­tre funções mentais elementares (atenção involuntária) e superiores (atenção voluntária, memória lógica). É difícil compreender cada função mental isoladamente, pois sua essên­cia é ser inter-relacionada com outras funções. Sua abordagem é globalizante. Ele utiliza o termo consciên­cia para explicar a relação dinâmica (interfuncionalidade) entre afeto e in­telecto e, portanto, questiona a divi­são entre as dimensões cognitiva e afetiva do funcionamento psicológi­co. Para ele, não dá para dissociar interesses e inclinações pessoais (aspec­tos afetivo-volitivos) do ser que pen­sa (aspectos intelectuais).

Consciência

Vygotsky concebe a consciência como “organização objetivamente observável do comportamento, que é imposta aos seres humanos atra­vés da participação em práticas sócio-culturais”(p.78). É evidente a fun­damentação em postulados marxis­tas: a dimensão individual é considerada secundária e derivada da dimen­são social, que é a essencial. Carre­ga ainda um fundamento sócio-histórico, isto é, a consciência humana, resultado de uma atividade comple­xa, formou-se ao longo da história social do homem durante a qual a ati­vidade manipuladora e a linguagem se desenvolveram.

As impressões que chegam ao homem, vindas do mundo exterior são analisadas de acordo com categori­as que ele adquiriu na interação so­cial. A consciência seria a própria es­sência da psique humana, o compo­nente mais elevado das funções psi­cológicas humanas e envolve a inter-relação dinâmica e em transformação entre: intelecto e afeto, atividade e representação simbólica, subjetividade e interação social.

Subjetividade e intersubjetividade

As funções psicológicas superio­res, tipicamente humanas, referem-se a processos voluntários, ações conscientemente controladas, meca­nismos intencionais. Apresentam alto grau de autonomia em relação a fatores biológicos, sendo, portanto, o resultado da inserção do homem em determinado contexto sócio-histórico.

O processo de internalização de formas culturais de comportamento, que corresponde à própria formação da consciência, é um processo de constituição da subjetividade a partir de situações de intersubjetividade. Assim, a passagem do nível interpsicológico para o intrapsicológico envolve relações interpessoais e a construção de sujeitos únicos, com trajetórias pessoais singulares e ex­periências particulares em sua relação com o mundo e, fundamental­mente, com as outras pessoas.

Sentido e significado

Para Vygotsky, os processos men­tais superiores são mediados por sis­temas simbólicos, sendo a linguagem o sistema simbólico básico de todos os grupos humanos. O significado é componente essencial da palavra, o filtro através do qual o indivíduo com­preende o mundo e age sobre ele. Nele se dá a unidade de duas funções bá­sicas da linguagem: a interação soci­al e o pensamento generalizante. Na concepção sobre o significado há uma conexão entre os aspectos cognitivos e afetivos: significado é núcleo estável de compreensão e sentido é o signifi­cado da palavra para cada indivíduo, no seu contexto de uso e relacio­nado às suas vivências afetivas.

A linguagem é, assim, polissêmica: requer interpretação com base em fatores linguísticos e extralingüísticos. Para entender o que o outro diz, não basta ‘entender suas palavras, mas também seu pensamento e suas motivações.

O discurso interior

O discurso interior corresponde à internalização da linguagem. Ao lon­go de seu desenvolvimento, a pessoa passa de uma fala socializada (comu­nicação e contato social) a uma fala internalizada (instrumento de pensamento, sem vocalização), correspon­dente a um diálogo consigo mesma.

A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon
Heloysa Dantas
A teoria da emoção

Para Wallon a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quan­to do conhecimento. A emoção é ins­trumento de sobrevivência típico da espécie humana. O bebê humano, frá­gil como é, pereceria não fosse sua capacidade de mobilizar poderosa­mente o ambiente para atender suas necessidades. A função biológica do choro, por exemplo, é atuar fortemente sobre a mãe, fornecendo o primeiro e mais forte vínculo entre os humanos. Assim, a emoção tem raízes na vida orgânica e também a influencia, um estado emocional intenso, por exem­plo, provoca perda de lucidez.

Segundo Wallon, a atividade emo­cional é simultaneamente social e bio­lógica. Através da mediação cultural (social), realiza a transição do estado orgânico para a etapa cognitiva e raci­onal. A consciência afetiva cria no ser humano um vínculo com o ambiente social e garante o acesso ao universo simbólico da cultura – base para a atividade cognitiva – elaborado e acumu­lado pelos homens ao longo de sua história. Dessa forma, para Wallon, o psiquismo é uma síntese entre o orgâ­nico e o social. Daí sua natureza con­traditória de participar de dois mundos.

A opção metodológica adotada por Wallon é o materialismo dialético. Isso quer dizer que não dá para pensar o desenvolvimento como um processo linear, continuista, que só caminha para a frente. Pelo contrário, é um processo com idas e vindas, contraditó­rio, paradoxal. Assim, sua teoria da emoção é genética (para acompanhar as mudanças funcionais) e dialética.

A origem da conduta emocional depende de centros subcorticais (de expressão involuntária e incontrolável) e torna-se susceptível de controle voluntário com a maturação cortical. Para Wallon, as emoções podem ser de natureza hipotônica ou redutora do tônus (como o susto e a depres­são) e hipertônica ou estimuladora do tônus (como a cólera e a ansiedade).

Características do comportamento emocional

A longa fase emocional da infân­cia tem correspondência na história da espécie humana: é a emoção que garante a solidariedade afetiva e a sobrevivência do indivíduo.

Da função social da emoção resul­tam seu caráter contagioso (a ansie­dade infantil pode provocar irritação ou angústia no adulto, por exemplo) e a tendência para nutrir-se com a pre­sença do outro (uma platéia alimenta uma chama emocional entre os parti­cipantes, por exemplo). Devido a seus efeitos desorganizadores, anárquicos e explosivos, a emoção pode reduzir o funcionamento cognitivo, se a capa­cidade cortical da ação mental ou motora para retomar o controle da si­tuação for baixa. Se a capacidade cortical for alta, soluções inteligentes poderão ser encontradas.

Para Wallon não existe estado não emocional. Até a serenidade exprime emoção. Assim, a educação da emo­ção deveria ser incluída entre os pro­pósitos da ação pedagógica para evi­tar a formação do “circuito perverso de emoção”: a emoção surge num momento de incompetência do su­jeito e, não conseguindo transformar-se em atividade racional, provoca mais incompetência. O efeito desorganizador da emoção concen­tra a sensibilidade no próprio corpo e diminui a percepção do exterior.

Afetividade e inteligência

O ser humano é afetivo por exce­lência. É da afetividade que se diferen­cia a vida racional. No início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas. Ao longo do desenvolvimento, a reciprocidade se mantém de tal forma que as aquisições de uma repercute sobre a outra. A pes­soa se constitui por uma sucessão de fases com predomínio, ora do afetivo, ora do cognitivo. Cada fase incorpora as aquisições do nível anterior.

Para evoluir, a afetividade depende da inteli­gência e vice-versa. Dessa forma, não é só a inteligência que evolui, mas tam­bém a emoção. Com o desenvolvimen­to, a afetividade incorpora as conquis­tas da inteligência e tende a se racio­nalizar. Por isso, as formas adultas de afetividade são diferentes das infantis No início a afetividade é somática, tônica, pura emoção. Alarga seu raio de ação com o surgimento da função simbólica. Na adolescência, exigências racionais são colocadas: respeito recíproco, justiça, igualdade de direitos.
Inteligência e pessoa

O processo que começa com a simbiose fetal tem por horizonte; individualização. Para Wallon, não há nada mais social do que o processo pelo qual o indivíduo se singulariza, em que o eu se constrói alimentando-se da cultura, sendo que o destino humano, tanto no plano individual quanto no social, é uma obra sempre inacabado.

Fonte:professorefetivo.com.br

Quando a Aula dá Errado

á parou para pensar em todas as vezes que você preparou as aulas, preocupou-se em pesquisar materiais, escolher um vídeo, um determinado mapa ou gráfico e quando esta aula foi ministrada tudo deu errado ?

A idéia é que os alunos estivessem ávidos por aprender, mostrassem interesse e participassem da aula, mas nada disso aconteceu. Você encontrou alunos apáticos, desinteressados, ou então a grande maioria estava ocupada em ligar o celular, brincar com algum joguinho, ouvir uma música, trocar bilhetinhos, olhar pela janela, prestar atenção ao colega. Na verdade eles estavam muito “ocupados” para prestarem atenção na sua aula.

Mas, o que deu errado ? Bem, temos de analisar qual é a estrutura de uma aula fadada ao fracasso para você conhecer o que precisa ser evitado na próxima vez que for prepará-la.

– Aula Nota 0: Elementos que fazem com que uma aula dê errado:

01.   jamais entre na sala de aula despreparado, ou com uma aula preparada no último minuto, saiba que é o maior descaso com os alunos fazer isso,

02.   a aula não é para você, por isso jamais seja “verborrágico”, ou seja, não fique falando todo o tempo e só com termos difíceis do aluno entender,

03.   não use o tom de voz monótono, sem vibração ou calor. Talvez essa seja a sua 10ª. Turma, e você já está entediado em abordar o mesmo assunto, porém os alunos captam essa vibração,

04.   jamais elabore aulas que não dêem espaço para os alunos interagirem, darem opiniões ou fazerem perguntas,

05.   não faça do livro didático a sua muleta, você pode, e deve, saber andar sem ele.

06.   nunca faça perguntas fechadas do tipo “sim”, ou “não”

07.   jamais faça perguntas que dependam de voluntários para responder

08.   evite distribuir o tempo em: explicar, fazer exercícios e correção (esse é o modelo clássico da  “decoreba”.

– Aula  Nota 10: Elementos que fazem com que uma aula dê certo,  é  quando o professor:

01.   elabora a aula adequando-a ao linguajar e expectativas do aluno

02.   promove e estimula a interação dos alunos com perguntas abertas e contextualizadas às vivências dos alunos

03.   mostra paixão e vibração em suas aulas

04.   diversifica as estratégias de ensino e sempre está testando novas práticas de ensino

05.   traz o mundo para dentro da sala de aula por meio de jornais, debates, noticiários, músicas, assuntos polêmicos, assuntos inovadores, etc.

06.   faz com que o conhecimento da sala de aula tem sentido no mundo fora dela, para que os alunos possam assim, compreender o sentido de estarem aprendendo aquilo

07.   tem sempre um plano “B” para quando o vídeo, ou DVD não funcionar

08.   mostra-se sempre criativo e proativo em todas as situações

09.   tem senso de humor o bastante para rir de si mesmo e rir junto com os alunos

10.   por meio de todas as suas aulas, tem a convicção de que entregaram algo realmente significativo e que vai tornar a vida daqueles jovens menos difícil

Dê uma olhada no seu plano de aula de amanhã, levante a estrutura que você enquadrou essa aula, selecione os elementos que a compõem e faça os ajustes que achar necessário.  Depois conte para a gente no blog.

Compartilhe também as suas idéias para tornar uma aula nota 10.

Fonte:sosprofessor.com.br

A Escola Ontem e Hoje

Por: JORGE LUCENA

Para as pessoas que vivenciaram a escola de alguns anos atrás, e presenciam os atuais acontecimentos da escola pública no Brasil hoje, nota uma mudança catastrófica com relação ao comportamento dos alunos, falta de interesse pelo conteúdo e desrespeito pelos professores são apenas alguns dos problemas enfrentados em sala de aula, além desses uma série de problemas chegam a somar tomando o efeito de uma bola de neve onde o bullyng e a violência torna-se o ponto mais crítico desse somatório de dificuldades. Mas onde estará o ponto chave dessa mudança de atitudes? Será que a escola é a única responsável por toda essa mudança? A essas indagações podemos colocar inúmeras outras, os estudiosos das didáticas escolares propõem suas teorias até certo ponto magníficas nas suas apresentações teóricas, mas que quando tentamos colocá-las em prática no nosso dia a dia ficamos com a perturbadora sensação que não funcionou como deveria. Todos nós sabemos e que é plenamente divulgado nos meios de comunicação que o governo federal envia recursos suficientes para a educação, mas que infelizmente nunca chegam a sua totalidade no objetivo a que foram direcionados. Mesmo assim os recursos são suficientes para se fazer um excelente trabalho dentro da escola, apesar dos descasos com a coisa pública pela grande maioria dos governantes.

Se nós fizermos uma comparação com a escola pública de anos atrás, fica bem visível que a quantidade de recursos era bem inferior e mesmo assim a qualidade do ensino e do aprendizado dos alunos no tocante ao interesse é com certeza bem superior aos dos dias atuais. A educação é o ponto básico para estruturar toda uma sociedade, nos últimos dias podemos observar o quadro de medalhas das olimpíadas, e o que nos chama a atenção é que os países que dão prioridade a educação consequentemente conseguem demonstrar uma excelente disciplina, e o quadro de medalhas expressa todo esse domínio sobre os outros países. Apesar dos esforços das pessoas realmente interessadas em fazer uma educação de qualidade nesse país estamos muito distantes ainda de conseguir atingir esse objetivo.

Em minha opinião o ponto principal para se atingir esse objetivo será a união da família dos alunos com a escola e a sociedade de uma forma geral, nos conselhos caseiros sobre a importância da escola, na presença dos responsáveis com relação às necessidades dos alunos, na cobrança efetiva dos pais por resultados positivos tanto do corpo docente quanto do discente.

Com relação à remuneração dos professores, essa deveria ser monitorada e paga diretamente do governo federal, ou seja, os salários dos professores deveriam ser federalizados, dessa forma acabaria toda essa polêmica com relação ao piso dos professores, não haveria gestores intermediários e os salários desses profissionais seriam de inteira responsabilidade do governo federal, podendo o mesmo valorizar de forma mais consistente os seus salários ficando a cargo dos estados e municípios apenas a fiscalização referente ao processo educacional.

CONCLUSÃO

Essa é a opinião de um profissional da educação que dedica todo o dia grande parte de seu tempo a educação de nosso país, na esperança de um futuro melhor com uma educação de qualidade de pessoas conscientes e formadoras de opinião, com uma política justa em todos os setores de nossa sociedade livre de toda e qualquer situação avessa ao crescimento intelectual, contra as drogas e todo o malefício que nas atuais circunstâncias denigre e mancha a nossa sociedade.

Fonte;brasilescola.com.br